Manipulação de estudos científicos: você está sendo enganado!

Entenda por que existe tanta confusão na Nutrição e aprenda como se proteger de manipuladores.

ESTUDOS CIENTÍFICOS

Gustavo Carvalho

9/30/20249 min read

Introdução

Você já percebeu como os estudos científicos alimentam debates acalorados nas redes sociais? Às vezes, parece que quem possui o maior repertório bibliográfico é coroado como detentor da verdade, mas a realidade pode ser outra. Isso tem sido cada vez mais frequente, gerando polarização e muita confusão a respeito da ciência, e especialmente na Nutrição, esses problemas podem afetar profundamente suas escolhas alimentares.

Ao longo dos meus estudos no Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro, eu me perguntava por que havia tanta discordância entre profissionais da área, desde os assuntos mais elementares, como bioquímica, até as disciplinas mais práticas, como aquelas relacionadas a abordagens nutricionais propriamente ditas na clínica. “Por que tudo na Nutrição se torna tão confuso?”, eu me perguntava.

Afinal, a Nutrição é uma ciência, ou seja, todo o conhecimento dessa área é construído nos paradigmas do método científico. Sendo assim, mesmo que eu já tivesse consciência de que a complexidade do sistema biológico que temos em nosso organismo faz com que a aplicação do método científico enfrente muitos desafios na área da saúde, eu percebia uma diferença muito grande entre a Nutrição e a Medicina, por exemplo. Embora haja divergências entre médicos em diversos temas, o nível de confusão na ciência nutricional sempre me pareceu mais elevado ou, no mínimo, mais nocivo ao público, ainda mais na era digital.

Não demorou muito até que eu pudesse entender os fatores que fazem da Nutrição uma área da ciência muito delicada – no sentido de ter muitas brechas que possibilitam a produção de artigos científicos extremamente equivocados, cujas consequências podem ser devastadoras para a população.

Então, surge uma pergunta crucial...

Até que ponto podemos confiar em estudos científicos na Nutrição?

Quando você escuta um nutricionista trazendo informações, supostamente baseadas em evidências científicas, você confia mais no que está sendo dito? É justo que você dê mais credibilidade ao profissional que apresenta a base de seus argumentos – eu também confiaria. Mas, hoje, por frequentar mais os “bastidores” da Nutrição, posso ir diretamente à fonte daquela informação e analisar minuciosamente os mencionados estudos antes de chegar a uma conclusão.

O que você talvez não saiba – e merece saber – é que muitos estudos, que moldam nossa percepção de bem-estar, estilo de vida e alimentação saudável, são manipulados por interesses políticos, econômicos e, até mesmo, ideológicos. Isso afeta diretamente suas escolhas alimentares e, consequentemente, sua saúde.

Foi por entender isso que me identifiquei tanto com o trabalho do Dr. Jon Marins, porque – como você vai perceber ao longo do texto – é muito difícil encontrar profissionais que tenham consciência dos problemas causados por estudos mal elaborados e interpretados. Logo, a postura rigorosamente científica adotada por Marins é, sem a menor dúvida, um grande alívio dentro desse tempestuoso cenário nutricional.

Em seu canal do YouTube, Dr. Jon Marins debate com o médico ortomolecular Dr. Adolfo Duarte sobre a confiabilidade de estudos científicos. Assista ao trecho!

Voltando ao nosso foco, a questão principal é: como você pode identificar essas manipulações e se proteger de informações enganosas? Isso pode te prevenir de adotar aquela “dieta da moda” que, apesar de ter relatos de sucessos convincentes, pode causar um verdadeiro estrago no seu organismo.

I. Manipulação de dados: por que há tanto espaço para estudos equivocados?

Muitos estudos publicados parecem inquestionáveis, afinal, foram feitos por cientistas renomados, em universidades mundialmente famosas ou publicados nas revistas mais prestigiadas da área da saúde. No entanto, nem todos os dados são apresentados de forma transparente.

É fundamental destacar que conduzir um estudo científico de qualidade é caro, exige recursos significativos e, para ser eficaz, consome tempo. Percebe o perigo nessa afirmação? Imagine-se um cientista com a ambição de fazer um estudo revolucionário sobre o impacto do consumo de açúcar refinado na saúde humana. Ao delinear o método de pesquisa, você percebe que o custo para fazer aquele estudo acontecer é exorbitantemente maior do que você é capaz de arcar.

Nesse cenário, você – assim como fazem os pesquisadores – precisa recorrer a possíveis patrocinadores para financiar o projeto. Ironicamente, mas comumente é essa a realidade, surgem candidatos para bancar seu estudo: grandes empresas da indústria alimentícia cujos maiores lucros advêm de produtos açucarados. Você pode pensar: “Impossível! Isso deve ser proibido por lei!”. Deveria, sim, mas a verdade é mais amarga.

Pelo desejo de ser um cientista fiel à busca pela verdade, por trabalhar de forma imparcial e com ética, você recusa as propostas dessas empresas e aceita o fato de que vai ter de fazer ajustes na sua pesquisa que implicará resultados menos precisos. Acontece que outro pesquisador vai acabar aceitando aquela proposta. O resultado? Essas empresas com interesses financeiros exercerão uma forte influência sobre o pesquisador, que usará táticas para esconder resultados negativos ou inflar dados positivos, dependendo do objetivo da indústria. Isso cria uma ciência enviesada, e o consumidor comum acaba sendo o maior prejudicado.

Frustrado, você como um cientista, ainda quer publicar seu artigo científico, mesmo que precise reduzir os custos. Com muito esforço, você conclui sua pesquisa e agora é hora de publicá-la. Imagine seu desespero ao descobrir que até mesmo as revistas científicas mais prestigiadas não vão olhar somente para a qualidade do seu estudo. Elas avaliam sua reputação, ou seja, se você já produziu artigos relevantes antes desse. “Como poderia eu ter feito uma boa pesquisa sem recursos e sem aceitar financiamento com conflito de interesses?” é uma pergunta que provavelmente vai surgir na sua mente.

Para piorar, essas revistas também possuem seus vínculos com grandes empresas que tornam a seleção de artigos algo muito parcial. Para fechar com chave de ouro, também é comum que você, autor de um artigo, precise pagar para ter seu estudo publicado naquela revista renomada. Absolutamente aterrorizante, não é?

II. Os desafios do método científico na Nutrição

A Nutrição é uma área que estuda a interação de diversos fatores, como genética, estilo de vida, e ambiente. Esses fatores são extremamente variáveis, o que dificulta o controle rigoroso dos experimentos.

No método científico tradicional, como acontece na Física e na Química, por exemplo, o ideal é que você consiga isolar uma variável (como a posição de um objeto) e controlar o ambiente (como uma ventania) para avaliar o efeito direto dessa variável no resultado (talvez a ventania seja forte o suficiente para alterar a posição do objeto). No entanto, na Nutrição, os seres humanos vivem em ambientes complexos e multifacetados, e a alimentação não é uma variável isolada. Ela envolve múltiplos alimentos, hábitos e contextos sociais. Há, também, muita variação de um indivíduo para outro em termos de fisiologia. Isso cria desafios para estudos precisos.

Além disso, os efeitos da alimentação na saúde muitas vezes são acumulativos e demoram anos ou até décadas para se manifestar. Estudos de longo prazo são difíceis de realizar e custosos, o que limita o alcance das pesquisas nutricionais.

Reconheço que tudo isso pode parecer sufocante, mas é vital entender como essas questões impactam comportamentos e geram problemas de saúde pública. Vamos visitar alguns casos envolvendo a condução indevida de estudos científicos.

III. O caso de Harvard: financiando a desinformação

Um exemplo clássico de manipulação ocorreu nos anos 1960, quando a Sugar Research Foundation, atual Sugar Association, pagou cientistas de Harvard para minimizar os riscos do açúcar e culpar as gorduras saturadas pelas doenças cardíacas. Isso foi revelado décadas depois, em um estudo publicado em 2016 pela Universidade da Califórnia, em São Francisco. Documentos internos mostraram como a SRF influenciou a pesquisa e o debate nutricional, levando a décadas de políticas alimentares equivocadas que prejudicaram milhões de pessoas.

Os estudos de Harvard, amplamente citados na época, moldaram as diretrizes alimentares globais por décadas, até que essas manipulações vieram à tona. Esse escândalo não apenas distorceu o entendimento do público, mas também reforçou a ideia de que a gordura saturada, e não o açúcar, era o grande vilão das doenças cardiovasculares, ainda que evidências mais recentes indiquem o contrário.

A pesquisadora norte-americana Marion Nestlé enfatiza a necessidade de maior transparência nos estudos e nos interesses que os financiam. Em seus livros, como Food Politics: How the Food Industry Influences Nutrition and Health e Unsavory Truth: How Food Companies Skew the Science of What We Eat, Nestlé analisa como a indústria alimentícia americana influencia a pesquisa científica e as políticas de saúde pública financiando artigos que favorecem seus próprios interesses, além da prática de lobbying em órgãos reguladores governamentais, como a Food and Drug Administration (FDA), responsável pelas recomendações de diretrizes nutricionais dos Estados Unidos.

IV. Um caso recente – o escândalo da Coca-Cola

Essa prática de manipulação de estudos científicos continua. Em 2015, a Coca-Cola foi exposta por patrocinar pesquisas que desmereciam os impactos negativos do açúcar na saúde. A gigante das bebidas patrocinou a Global Energy Balance Network, uma organização que promovia a ideia de que a inatividade física, e não a má alimentação, era a principal responsável pela obesidade. Ao redirecionar o debate para o exercício físico, a Coca-Cola buscava desviar o foco da quantidade de açúcar em seus produtos.

Esse escândalo gerou grande polêmica, e a Global Energy Balance Network foi desmantelada após a revelação de seus vínculos financeiros com a Coca-Cola. O caso é emblemático pelo fato de que, mesmo em tempos recentes, grandes corporações continuam a influenciar o conhecimento científico para proteger seus interesses.

V. O impacto da manipulação científica na saúde pública

Os dois casos exemplificam como grandes corporações têm moldado o conhecimento científico em Nutrição, colocando em risco a saúde pública. Quando estudos são distorcidos, as consequências podem ser profundas. Políticas alimentares baseadas em informações incorretas não apenas prejudicam os consumidores, mas também perpetuam mitos que retardam o progresso da ciência. Por isso, é crucial entender como as pesquisas são financiadas e quem está por trás delas.

VI. Como evitar ser enganado por estudos manipulados?

Aqui estão algumas estratégias que podem te ajudar a se proteger da manipulação científica:

  1. Busque profissionais confiáveis: confie em nutricionistas e médicos que explicam estudos de forma clara e evitam modismos.

  2. Foque no básico: siga princípios simples e que sejam fáceis de aderir, como uma alimentação focada em alimentos in natura predominantemente de origem animal e atividades físicas regulares.

  3. Não confie em soluções rápidas: Dietas ou suplementos que prometem resultados imediatos são, na maioria das vezes, enganosos.

  4. E a estratégia mais importante… 👇🏻

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VII. Conclusão

A manipulação de estudos científicos em Nutrição impacta diretamente nossas escolhas alimentares e as políticas de saúde pública. Casos como o de Harvard e a Coca-Cola mostram que, na Nutrição, interesses financeiros podem distorcer o verdadeiro conhecimento científico.

A melhor defesa contra esse cenário é estar sempre informado, questionar e buscar orientação com profissionais que compreendem essas armadilhas científicas. Suas escolhas alimentares podem ser o caminho para uma vida mais saudável, desde que baseadas em informações confiáveis.

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Referências bibliográficas:

Kearns, C. E., Schmidt, L. A., & Glantz, S. A. (2016). Sugar Industry and Coronary Heart Disease Research: A Historical Analysis of Internal Industry Documents. JAMA Internal Medicine, 176(11), 1680–1685. Disponível em: <https://doi.org/10.1001/jamainternmed.2016.5394>

O’Connor, A. (2015, August 9). Coca-Cola Funds Scientists Who Shift Blame for Obesity Away From Bad Diets. The New York Times. Disponível em: <https://www.nytimes.com>

Nestle, M. (2002). Food Politics: How the Food Industry Influences Nutrition and Health. University of California Press.

Nestle, M. (2018). Unsavory Truth: How Food Companies Skew the Science of What We Eat. Basic Books.